sexta-feira, 18 de março de 2011

sobre a água

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"O que na água Bloom, amante da água, tirador de água, portador da água, voltando ao fogão, admirava? Sua universalidade: sua uniformidade democrática e constância em sua natureza em procurar o próprio nível: sua vastidão no oceano da projeção de Mercator: sua imensurável profundidade na fossa de Sunda excedendo 8000 braças: a inquietação de suas ondas e partículas superficiais percorrendo em turnos todos os pontos da costa: a independência de suas unidades: a variabilidade das condições marinhas: sua imobilidade hidrostática na calmaria: sua turgidez hidrocinética nas marés baixa e de primavera: sua subsidência depois da devastação: sua esterilidade nas calotas circumpolares, ártica e antártica: sua importância climática e comercial: sua preponderância de 3:1 sobre a terra seca: sua hegemonia indisputável estendendo-se em léguas quadradas por toda a região abaixo do trópico subequatorial de Capricórnio: a estabilidade multisecular de sua bacia primordial: seu leito marrom-alaranjado: sua capacidade de dissolver e manter em solução todas as substâncias solúveis incluindo milhões de toneladas dos metais mais preciosos: sua lenta erosão de penínsulas e ilhas, sua persistente formação de ilhas e penínsulas homotéticas e promontórios em declive: seus depósitos aluviais: seu peso e volume e densidade: sua imperturbabilidade em lagunas e lagoas dos planaltos: sua gradação de cores nas zonas áridas e temperadas e frias: suas ramificações veiculares em correntes continentais riocontidas e rios afluentes a derramar no oceano com seus tributários e correntes transoceânicas, correntedogolfo, cursos norte e sul e equatorial: sua violência em maremotos, trombas-d’água, poços artesianos, erupções, torrentes, turbilhões, enchentes, ressacas, divisores d’águas, bifurcações de água, gêiseres, cataratas, redemoinhos [...]"

Trecho do Ulysses, traduzido pelo André Conti, aqui.
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