.
Documentário de Ricardo Piglia e Andrés Di Tella sobre Macedonio Fernández, autor do sensacional Museu do Romance da Eterna, que editei e acaba de sair pela casa editorial cossaca.
Além do Museu apontar muitos caminhos que a ficção portenha tomaria no século vinte, Macedonio, ele mesmo, nossa, valha-me Deus. Começou a escrever o Museu (sua obra mais importante) em 1904 e morreu em 1952 sem ter colocado ponto final no livro, que não considerava acabado e só foi ganhar edição em 1967. Além da caligrafia a la Walser, Macedonio escrevia em qualquer folha solta ou pedaço de papel que visse pela frente -- e tudo se espalhava por bolsos, potes e gavetas. Foi promotor e advogado. Só andava de poncho e em 1927, saiu candidato à presidência da Argentina, porque dizia que era mais fácil ser presidente da Argentina do que abrir um bar, já que muita gente queria abrir um bar e poucos queriam ser presidente.
Conhecemos Macedonio através de Borges, que talvez tenha no autor do Museu seu principal precursor. Mas, como tudo o que respira e se move em torno de Borges, Macedonio também ficou à sombra. Numa passagem do diário de Bioy Casares, a dupla Borges/Bioy, cujo drinque predileto era o líquido negro da maledicência, comenta que nem o próprio Macedonio entendia os livros que escrevia. Piglia, autor de A cidade ausente e do dicionário macedoniano, diz que não era bem assim e que, na verdade, é só a partir de Macedonio que se torna possível escrever romances na Argentina.
O documentário é um pouco solene (coisa que Macedonio, o malucão primordial das letras portenhas, não aprovaria), mas serve para entender melhor esse autor estranho e único, praticamente desconhecido por acá.
.