segunda-feira, 27 de agosto de 2012

dormir em camas alheias

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"Eu não gostava de dormir sozinha no meu apartamento. Morava em um sétimo andar. Certa noite, enquanto fumávamos um cigarro fora do edifício, disse ao porteiro: Não sei dormir aqui. O que você tem que fazer -- disse -- é sair daqui o máximo que puder. Voltar só para comer e tomar banho, nunca para dormir, porque, à medida que a pessoa vai passando noites em casas diferentes -- quartos, pensões, hotéis, quartos emprestados, camas compartilhadas --, conhece um pouco mais sua intimidade."

"Deixar uma vida. Dinamitar tudo. Não, não tudo: dinamitar o metro quadrado que a gente ocupava entre as pessoas. Mais precisamente: deixar cadeiras vazias nas mesas que se compartilhava com os amigos, não como metáfora, mas na realidade, deixar uma cadeira, tornar-se um buraco para os amigos, permitir que o círculo de silêncio em torno da gente se alargue e se encha de especulações, deixar uma vida para começar outra."

"Quando dormia em camas alheias, dormia profundamente e me levantava muito cedo na manhã seguinte. Vestia-me rápido, roubava algum objeto -- toalhas, principalmente, ou camisetas brancas -- e saía à rua. Comprava um café para viagem, um jornal, e me sentava em algum lugar público e em plena luz do dia para ler. O que mais gostava de dormir em camas alheias era isso, acordar cedo, sair correndo, comprar um jornal e ler ao sol."

Valeria Luiselli, Los ingrávidos, 2011
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