quinta-feira, 20 de novembro de 2008

um assombro quando paramos pra pensar

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"E ele acabou se convencendo de que tem o dever de acompanhá-la, que assim vai pagando à prestação a dívida que tem com ela, como está pagando a que tem comigo; e agora, nesta tarde de sábado, como em tantas noites e meio-dias, com bom tempo, às vezes com chuva que se junta à que sempre está regando o rosto dela, vão juntos para lá de Retiro, caminham pelo cais até que o barco parte, misturam-se um pouco com as pessoas com capotes, malas, flores e lenços e, quando o barco começa a se mover, depois do apito, ficam rígidos e olham, olham até não mais poder, cada um pensando em coisas bem diferentes e ocultas, mas de acordo, sem o saber, na desesperança e na sensação de que estamos sozinhos, sempre um assombro quando paramos para pensar." (Onetti; Esbjerg, na costa)
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domingo, 16 de novembro de 2008

mundo à milanesa

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Há uns dois anos, fiz (para a Trip) uma entrevista com o Isay Weinfeld. Já conhecia o Isay por causa da Paula, filha dele, minha amiga. E também porque a gente se reunia nas noites de sexta pra sessões de cinema no apartamento dele. Foi lá que vi pela primeira vez o Fanny & Alexander, do Bergman (filme em que pensei muito enquanto psicografava o Chibo). O Isay apresentou pra gente o Claude Lelouche, o Viver por viver, com aquelas cenas em que a música sobe e os personagens seguem falando, falando, abanando os braços feito galhos, e a gente entende tudo, mesmo sem o som dos diálogos. Na semana passada, encontrei o Isay. Conversamos sobre cinema (ele disse que está pensando em voltar a filmar) e lembrei da entrevista, que na época precisei editar um pouco. Abaixo, segue na íntegra.

Você passa muito tempo sozinho?
Tenho necessidade de solidão, de ficar quieto. Li uma vez que estavam instituindo nas escolas da Inglaterra aulas de nada. Cinquenta minutos de nada. Obrigatoriamente nada. Apenas para pensar. Achei o máximo.

Sei que você gosta de Londres, qual a sua relação com a cidade?
Aos 14 anos tive o meu primeiro contato com Londres. A cidade é a mistura perfeita entre metrópole e cidade do interior. Uma coisa que me chamou a atenção desde cedo em Londres é a plaquinha nas escadas rolantes dos metrôs: “please, stand on the right”. Isso pra mim é o exemplo mais bem acabado de respeito e educação. Londres permite que andemos a pé, o maior sinônimo de qualidade de vida que um lugar pode oferecer.

Você caminha por São Paulo?
Não. A cidade é muito feia. No meu bairro, Higienópolis, por exemplo, os prédios são predominantemente residenciais. Isso é terrível. Eles deviam ter comércio embaixo; livraria, barzinho, loja de CDs. Tudo em São Paulo deveria ter uso misto. É uma delícia caminhar por lugares assim. Andar na Gabriel Monteiro da Silva e só ver decoração é chato, incomoda. Se existisse uma mescla teríamos mais prazer em caminhar na cidade.

Qual a rua mais feia de São Paulo?
Impossível saber. Isso aqui é um concurso com milhares de candidatos. A avenida Santo Amaro, por exemplo, é muito feia.

O que você faria para melhorar São Paulo?
Deceparia tudo o que estivesse acima do quarto andar.

Como a arquitetura entrou na sua vida?
Quando era criança vi a maquete de um prédio. Lembro de ter ficado imaginando a vida das famílias em cada um dos andares. Essa é a primeira lembrança que tenho relacionada à arquitetura. Mas não acho que eu tenha nascido para ser arquiteto. Inclusive, não acho que sou arquiteto, nem quero me considerar como tal.

O que você é então?
Outro dia li em algum lugar que meu trabalho é multifacetado. Até entendo que as pessoas achem isso. Mas não significa que eu seja multitalentoso. Às vezes produzo um cenário, projeto uma casa, faço um filme. Mas não tem multitalento nenhum. Faço sempre a mesma coisa. Faço arquitetura, mas poderia ser um filme, por exemplo. Não me sinto arquiteto. Nem quero que a minha vida seja apenas isso, não quero ser especialista em nada.

Numa das suas exposições, Happyland, você ironizava o comportamento de pessoas que blindam seus carros, que se encastelam por medo da violência. Mas a maioria dos seus projetos são privados, casas de pessoas ricas, com muros altos.
O tipo de pessoa que critico nessas exposições eu não atendo no meu escritório. A coisa mais importante que alcancei na minha profissão é o fato de poder dizer não. Não ser obrigado a me violentar. Eu jamais faria um palacete em estilo neoclássico. Mas se um dos meus clientes precisa de uma guarita porque a cidade é violenta, não vejo nenhum problema em atendê-lo. As pessoas que atendo não são as mesmas que compram livro por metro ou que moram num lugar só para mostrar quanto dinheiro tem.

Você falou das construções neoclássicas, a cidade está cheia delas. Tem também os bares cariocas em São Paulo, que poderiam estar num pavilhão do Rio no Epcot Center.
Morro de rir com a criatividade das pessoas. Não entendo porque acham brega o bingo de tema africano que foi construído na avenida 23 de Maio. Chamam aquilo de arquitetura temática, pejorativamente. Ninguém se dá conta que a cidade está cheia de outros tipos de arquitetura temática. Por que o neoclássico é um “estilo” e o bingo africano é um tema? O “estilo” francês de casas e lojas é um tema também, não um estilo. Só que ninguém diz isso. Las Vegas, por exemplo, é um tema. E é maravilhoso. Não acho que o bingo da 23 de Maio seja brega. É um projeto muito bem-feito dentro do tema africano. Existem construções temáticas em São Paulo muito piores que o bingo.

A única obra pública que você realizou até hoje foi a praça da rua Amauri. Você tem vontade de fazer mais obras públicas? Qual a função pública do arquiteto?
O arquiteto tem que saber se calar. Deve saber quando fazer uma arquitetura silenciosa. Já tive chances de construir um marco na cidade, um lugar onde as pessoas poderiam dizer: “puxa, isto é uma obra feita pelo Isay”. Mas acho isso uma bobagem. Quando se trata de uma coisa pública, o arquiteto deve deixar o ego em casa e fazer algo em benefício da cidade. Há certas ocasiões que não são para mostrar o talento nem provar que se é um arquiteto genial. De vez em quando é preciso evidenciar o talento sabendo ficar quieto.

Se fosse encarregado de recriar Brasília, o que mudaria?
Brasília é uma cidade onde falta essa coisa importantíssima chamada esquina. Isso de estarmos caminhando e, de repente, o espaço se abrir e conduzir nosso olhar para um lugar novo, inesperado. Essa surpresa falta a Brasília.

O que acha de Brasília?
Utopia, fantasia, melancolia. Palavras que tem tudo a ver com Brasília, e comigo também.

Certa vez você disse: “Gerações foram caladas pelo fato de que toda obra pública importante é entregue a um arquiteto só: Oscar Niemeyer.”
Continuo achando isso. Mas a culpa não é do Niemeyer, é da falta de imaginação dos governantes. Eles têm medo de errar e acabam entregando as obras para uma pessoa só.

Gosta do trabalho do Niemeyer?
Niemeyer é um grande artista, mas nunca teve influência na minha vida. Ele é um grande escultor, que fez das esculturas arquitetura. Algumas de suas esculturas são deslumbrantes e adaptadas para determinados fins. Não é assim que vejo o trabalho do arquiteto. Considero a função muito importante em arquitetura. Se é um museu, ele deve funcionar, antes de mais nada, como museu. Não adianta ser impactante, lindo por fora se não funcionar para o que foi destinado. Lina Bo Bardi sempre teve muito mais a ver comigo.

Que projeto contemporâneo você mais gosta?
O Museu de Arte Moderna de Nova York, do Yoshio Taniguchi.

Você é se preocupa bastante também com os interiores. Isso faz com que alguns arquitetos te chamem de decorador, pejorativamente.
Antigamente eu achava outra coisa, hoje acho que é despeito mesmo. Quando eu fazia cinema, falavam: o Isay é aquele arquiteto que faz cinema. Depois, passaram a dizer: o Isay é aquele cineasta que faz arquitetura; é o decorador que faz cenários; o cenógrafo que faz arquitetura. Esses rótulos não me interessam. Fazer decoração é tão importante quanto fazer arquitetura, design, urbanismo ou cenografia. Um não é menos complexo do que o outro. Pra mim o desenho do botão da campainha é tão importante quanto o resto.

O que há de brasileiro na sua arquitetura?
Eu. Eu sou brasileiro, não basta? Ser brasileiro é trabalhar com materiais brasileiros? Eu trabalho. Só não sei ser caricato. Ou será que para ser brasileiro tenho que me inspirar nas curvas das montanhas do Rio de Janeiro? E se eu for influenciado pelas retas de São Paulo, isso não é ser brasileiro?

Que projeto você ainda não fez mas gostaria de fazer?
Um bordel, uma escola de samba, um cemitério, um cinema. Mas faria um cinema com cortina. Ela vai se abrindo, desvendando aquela tela enorme. Há anos eu e o Leon Cakoff temos vontade de fazer um cinema juntos.

Quando começou a fazer cinema?
Eu estava no cursinho, tinha 17 anos, e me reencontrei com o Marcio Kogan. Nossas famílias eram amigas, mas nunca tínhamos tido muito contato. Ele também era apaixonado por Bergman, estávamos ligados nas mesmas coisas. Na época, o Marcio tinha acabado de ganhar uma câmera Super 8. Resolvemos então rodar um filme na cozinha da minha casa. O Marcio me filmava fazendo o jantar. Eu estava todo de preto fritando um ovo, a trilha sonora era a marcha fúnebre. Uma coisa meio surrealista, meio underground. Em 1983, fizemos o Idos com o Vento, que ganhou o festival de Gramado e outros festivais fora do Brasil.

Como foi filmar o Fogo e Paixão (1988)? O que acha dele hoje?
Eu ainda gosto do filme. Acho, evidentemente, que ele tem vários problemas. O ritmo, por exemplo, é muito lento. Acho que poderia ser mais agitado se tivesse uma outra edição. Mas foi um grande sucesso, considerado o melhor filme brasileiro do ano. A direção de arte era inédita na época. Os papéis principais foram feitos por um grupo de teatro genial, o Pod Minoga [Mira Haar, Cristina Mutarelli, Carlos Moreno]. O filme contava também com participações da Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Tônia Carrero.

Pensa em voltar ao cinema? Pretende filmar o Palace Hotel?
Tenho muita vontade de retomar esse roteiro. Uma época eu e o Marcio pensamos em adaptá-lo para o teatro, caso não filmássemos. A história é sobre um fim de semana em um hotel que já foi elegante, mas que está decadente e será transformado em outro empreendimento. Narra a vida do staff do hotel e dos hóspedes nesses últimos dias.

Como o cinema influencia sua arquitetura?
Principalmente pela fotografia. Os ângulos de uma cena ou de uma sala, o clima, a simetria, a luz. Não filmei o Palace Hotel, mas projetei o Hotel Fasano. Acho tudo muito parecido. Escrever o roteiro, fazer o croqui de uma obra. Começar a desenvolver o projeto, montar a pré-produção do filme. Em ambos existe uma certa manipulação do espectador.

Quem são seus ídolos?
O Ingmar Bergman era e continua sendo meu grande ídolo. Ao lado dele, colocaria o Haroldo, um professor de português que tive no Rio Branco. Ele ensinava redação com frases muito curtas. Uma frase e ponto, uma palavra, ponto. Ele falava que o principal numa redação é a primeira e a última frase. Tudo pra mim, até hoje, tem relação com isso. Esse professor, o Haroldo, adorava cinema. Ele organizava sessões no colégio. Foi numa delas que, com 14 anos, vi pela primeira vez Morangos Silvestres, do Bergman

Como você reagiu ao filme?
Ele mudou minha vida. A ponto de eu viajar até Estocolmo e ir atrás do senhor Bergman. Chegando lá me decepcionei com a cidade, que eu achava que era um lugar em preto-e-branco como nos filmes dele. No hotel fui direto à lista telefônica. Descobri então que Bergman é como Silva aqui no Brasil. Existia um bilhão.

Como foi a sua infância?
Nasci em São Paulo, em 1952, no Bom Retiro. Meu pai era polonês. Quando chegou ao país, depois da guerra, vendia colchas e lençóis de porta em porta. Depois montou uma malharia que acabou virando uma indústria têxtil. Da minha infância lembro de coisas como o misto-quente da mercearia do Seu Vicente, no Bom Retiro; os tijolos de vidro do piso da mercearia; o elevador do prédio onde eu morava; a árvore no pátio do Jardim Escola São Paulo. No colégio Rio Branco, lembro de jogar futebol. Como tinha bronquite asmática, ficava no gol – acho que era um péssimo goleiro.

Você era um filho mais rebelde ou mais bonzinho?
Muito cedo, comecei a viajar para Londres. Voltava de lá sempre de um jeito, o cabelo comprido, pintado de prata, vermelho. Chegava em Congonhas e quase não me reconheciam. Saía daqui um bicho e voltava outro. Durante anos me vesti só de preto também, isso pré-Gerald Thomas. Usava sapatos com solado alto, salto plataforma. Minha rebeldia era mais neste sentido.

Você gosta de moda?
Gosto, mas não sou de grifes. Odeio etiqueta, logomarcas. Nunca comprei uma roupa que tivesse um logotipo aparente. Acho genial o trabalho do Paul Smith. Na loja dele é possível encontrar uma camisa branca com a costura do botão do punho em vermelho. Ele faz roupas assim, clássicas, mas com uma nota dissonante. Isso tem muito a ver comigo e com a minha obra.

Gosta de ir à praia?
Vou menos do que gostaria. Mas não gosto das coisas ligadas à praia. Tenho medo de mar, não gosto de areia, não gosto dos trajes de praia, dos mosquitos. Gosto da praia no inverno, da solidão, da quietude. Detesto tomar sol. Vou por causa do barulho do mar, do vento e da cor da água.

A Paulinha me contou que você fez uma viagem a Polônia para entender melhor a história dos seus pais e avós.
Foi há dois anos. Meus avós eram donos de um moinho numa cidade muito pequena do interior da Polônia. Tinham quatro filhos. Quando a Segunda Guerra começou eles pagaram para uma senhora católica esconder os filhos, que ficaram por mais de dois anos embaixo do piso do quarto dela. Só saíam de madrugada, rapidamente. Essa senhora, no entanto, se tornou amante de um oficial, e certa noite, na cama, o oficial contou a ela que tinha acabado de matar o casal Weinfeld. Os quatro filhos estavam escondidos no quarto e ouviram tudo. Sempre escutei meu pai contar esse episódio, e quando ele morreu, há cinco anos, fiquei com vontade de ir a Polônia conhecer o lugar onde ele viveu com meus avós.

Como foi a viagem?
Fui com um casal de primos. Sabíamos apenas os nomes da cidade e da mulher que havia escondido nossos pais e tios. Depois de muito perguntar e caminhar pela minúscula cidade, conseguimos encontrar a casa onde nossos pais tinham sido escondidos. A casa existia ainda. Nela morava uma família muito pobre e numerosa. Fomos convidados a entrar na casa, no quarto. O senhor, dono da casa, puxou um armário. O chão de tábua estava oco, era ali que meu pai e tios ficavam. A janela do quarto (a vista que meu pai me descrevia) estava na minha frente. Foi uma das experiências mais impressionantes da minha vida.

Qual sua relação com o judaísmo?
Tenho muito do humor típico judeu, isso é verdade. Mas não sou religioso. Não rezo, não vou à sinagoga. Minha relação com a religião é puramente gastronômica. Participo de jantares de confraternização, só. No entanto me sinto profundamente judeu.

Li uma entrevista em que você dizia acreditar em discos voadores.
Gosto de acreditar, acho que me faz bem. Sempre tive vontade de ser abduzido. Quando eu estudava no Rio Branco, eu tinha aula de ciências com um professor que presidia a Associação Brasileira de Estudos de Civilizações Extraterrestres. Comecei a me interessar, a participar das reuniões da associação. Cheguei, inclusive, a fazer parte de grupos de pesquisa que iam atrás de relatos de pessoas que tinham avistado OVNIs.

Qual sua bebida preferida?
Adoro cachaça. Destesto champagne e uísque.

Você se leva a sério?
As pessoas começam a afundar, sobretudo profissionalmente, quando passam a se levar a sério. Sou favorável, por exemplo, à total destruição do meu trabalho. Não acho que ninguém deva preservar nada dele. A cidade de São Paulo é assim, autodestrutiva, mutável. Não acho que nada do que eu faça tenha qualquer importância.

Hoje em dia há pouco de minimalismo aqui, não?
A base do desenho puro se manteve. Mas com o tempo aprendi outras coisas. Minha ex-mulher, por exemplo, me ensinou que dentro do meu minimalismo cabiam outros elementos. Uma renda, uma cortina de renda. Aprendi a aceitar isso, a ver beleza nisso. Aprendi a enxergar a pureza das linhas retas (que todo mundo vê com mais clareza num móvel moderno), aprendi a enxergar isso num móvel inglês do século XVII, por exemplo. Comecei a ler, conhecer mais e hoje eu sou um grande colecionador de cacarecos.

Tem algum medo?
De avião. Quer acabar comigo? É anunciar que meu vôo teve um problema. Pedir para que eu escolha: ou pegar um outro avião no dia seguinte ou esperar seis horas e pegar o mesmo. Fico imaginando que sempre vou tomar a decisão errada. Outro dia entrei no avião e começou a tocar uma música do Agostinho dos Santos, cantor que morreu num desastre de avião. Fiquei apavorado. Outra coisa que tenho muito medo é de panela de pressão.

Toca algum instrumento?
Comecei a aprender violino. Quando criança, com uns 10 anos, eu tocava harmônica. Me apresentava num programa de televisão da TV Record, aos sábados. Eu fazia um número.

Em uma entrevista, o Paulo Mendes da Rocha disse que tem horror a dinheiro e que o ideal do homem inteligente contemporâneo é não possuir nada.
Eu não tenho esse desprendimento. Mas um dia, eu ainda vou ser um Paulo Mendes da Rocha. Só que com uma pitada de Artacho Jurado [arquiteto de prédios como o Cinderela, em Higienópolis].

Para terminar, uma mensagem final.
O mundo seria melhor se fosse à milanesa.
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

o equivalente em diálogo

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"Para descrever bem um ruído, deve-se imaginar o que renderia o seu equivalente em diálogo. Na água-furtada, eu queria conseguir um som que tivesse o mesmo significado de uma frase que os pássaros poderiam eventualmente dizer a Melanie: 'Agora você não escapa. Vamos cair em cima de você. Não precisamos dar gritos de triunfo, não temos necessidade de nos enfurecer, iremos cometer um assassinato em silêncio.' Eis o que os pássaros estão dizendo a Melanie Daniels, e foi isso que consegui dos técnicos do som eletrônico. Para a cena final, quando Rod Taylor abre a porta da casa e vê pela primeira vez os pássaros, a perder de vista, pedi um silêncio, mas não um silêncio qualquer; um silêncio eletrônico de uma monotonia capaz de evocar o barulho do mar ouvido de muito longe. Transposto em diálogo de pássaros, o som desse silêncio artificial quer dizer: 'Ainda não estamos prontos para atacá-los mas estamos nos aprontando. Somos como um motor que está esquentando. Em breve daremos a partida'."

(Hitchcock, no Hitchcock/Truffaut)
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