quinta-feira, 20 de novembro de 2008

um assombro quando paramos pra pensar

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"E ele acabou se convencendo de que tem o dever de acompanhá-la, que assim vai pagando à prestação a dívida que tem com ela, como está pagando a que tem comigo; e agora, nesta tarde de sábado, como em tantas noites e meio-dias, com bom tempo, às vezes com chuva que se junta à que sempre está regando o rosto dela, vão juntos para lá de Retiro, caminham pelo cais até que o barco parte, misturam-se um pouco com as pessoas com capotes, malas, flores e lenços e, quando o barco começa a se mover, depois do apito, ficam rígidos e olham, olham até não mais poder, cada um pensando em coisas bem diferentes e ocultas, mas de acordo, sem o saber, na desesperança e na sensação de que estamos sozinhos, sempre um assombro quando paramos para pensar." (Onetti; Esbjerg, na costa)
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