quarta-feira, 14 de julho de 2010

buscar o estilo

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"Lembro-me da forte impressão que o estilo de Damon Runyon, tão singular, produzia em mim quando eu era jovem. Era um estilo que saltava aos olhos e dizia: 'Olhe bem para mim! Isto aqui é um estilo!' E Hemingway também tinha um estilo. São dois notáveis estilistas. Mas aí fui ler Graham Greene e não encontrei estilo nenhum. E me perguntei por que ele não tinha estilo. Eu gostava imensamente dos seus contos e dos seus romances, mas como era o estilo de Greene? E é claro que ele tinha um estilo extraordinário para contar suas histórias, com grande economia e inteligência. E é óbvio que eu tinha um entendimento adolescente do que fosse estilo, valorizando apenas as maneiras que os escritores encontravam de ser originais. Eu admirava os jornalistas cheios de estilo, como Red Smith e Mencken. O que eles escreviam era inconfundível. E o que procurei fazer bem no início, ainda estudante, foi moldar um estilo para mim, mas logo percebi que este era um esforço em vão. Eu não conseguia fazer mais do que de imitar Red Smith, ou Hemingway, ou Runyon, ou quem quer que fosse, e acabei desistindo. E percebi que aquela busca era fatal. Toda vez que eu relia os meus textos, eu pensava que o autor não era eu, era outra pessoa. E então quando me tornei jornalista sempre tentei dizer as coisas de um modo que nem era cheio de clichês e nem banal — engraçado quando possível, ou dramático se possível. Comecei a expandir minha linguagem: as frases foram ficando mais complicadas, o vocabulário mais obscuro (uma vez, usei a palavra “eclético” numa reportagem e, no jornal, saiu “elétrico”). Era um esforço deliberado para escrever de uma forma artística, mas acabei desistindo disso também. Então comecei a escrever do único modo que eu conseguia, o que me vinha à cabeça, da maneira mais natural possível. E foi a partir daí que comecei a evoluir e acabei encontrando um caminho." (William Kennedy, na Paris Review, 1989.)
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