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Texto para o Outlook desta semana.
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Para os britânicos, o tênis é um esporte empolgante, imprevisível e maravilhoso, principalmente quando se está do lado de fora do estádio, acampado, numa fila de vinte quilômetros. É por isso que o torneio de Wimbledon, cuja edição 2010 começou há alguns dias em Londres, é responsável pelo maior orgulho do país: a fila de Wimbledon.
Trata-se de um lugar para destemidos. Cerca de três mil pessoas ingressam na fila todos os dias até o fim da competição. O objetivo é apenas um: conseguir entradas para assistir aos jogos da quadra principal. Senhas são distribuídas e é proibido guardar lugar. Furar a fila é crime (punido com cerimônia de empalamento comandada por Roger Federer). Enquanto avança-se em marcha lenta (em 2005, houve espera de 36 horas para ver Tim Henman), é possível pedir pizza, cachorro-quente, comida chinesa do Mr. Chow ou fish and chips. Tudo delivery. Basta informar coordenadas como árvore mais próxima ou gorro vermelho do amigo da frente e voilà.
Grupos carregam caixas de cerveja. Jovens do Greenpeace pedem contribuições para salvar os galgos da Indonésia. Apostas são feitas -- segundo meu amigo Bernie, a família inglesa média gasta semanalmente mais com apostas (£3,60) do que com a compra de legumes (£3,40) ou frutas frescas (£2,80) -- e adesivos com a inscrição "Eu fiquei na fila em Wimbledon" são distribuídos e prontamente colados em bonés, bochechas, bebês e camisetas.
Além dos vendedores de guarda-chuva (estamos em Londres) e chaveiros de bola de tênis, representantes das mais diversas marcas oferecem amostras grátis de iogurte, água sabor pêssego, choco crispys etc. Duas moças passam distribuindo pequenas colheres -- embora ninguém saiba muito bem o que fazer com elas --, e o homem que se veste como Sr. Hulot anuncia que vai pintar o cabelo de loiro e participar do concurso de sósias do Boris Becker.
Aos poucos, a fila caminha, até a catraca, deixando para trás sua própria multidão em ziguezague, o pessoal de pé e o pessoal sentado, os com travesseiros e os sem travesseiros, os com cobertor e a turma da vuvuzela. Logo, com alguma sorte, a quadra principal surge, radiosa. Mas quem alcança o objetivo e coloca os pés no verde e púrpura de Wimbledon vai perceber que dali para a frente tudo acaba muito rápido (um set, dois), e é da fila que vai lembrar depois.
Em São Paulo, nesses dias de Copa, acontece parecido: o trabalho pára, a fila de carros cresce, nas ruas as pessoas brandem corneta, apito e bandeira. Então parece que são 36 horas assim, fila, as camisas da Seleção, até todo mundo conseguir entrar nas casas, nos bares, no churrasco do irmão, do primo. O hino. Depois, o jogo mesmo, é rápido, plof. Tudo acaba, e a gente volta pra casa pensando no trabalho do dia seguinte, em toda vizinhança que gritou gol muito antes, quando o nosso atacante ainda se preparava pra chutar (o delay que vem atacando as transmissões da Copa), e a gente volta pra casa, como se voltasse para o fim da fila.
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Texto para o Outlook desta semana.
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Para os britânicos, o tênis é um esporte empolgante, imprevisível e maravilhoso, principalmente quando se está do lado de fora do estádio, acampado, numa fila de vinte quilômetros. É por isso que o torneio de Wimbledon, cuja edição 2010 começou há alguns dias em Londres, é responsável pelo maior orgulho do país: a fila de Wimbledon.
Trata-se de um lugar para destemidos. Cerca de três mil pessoas ingressam na fila todos os dias até o fim da competição. O objetivo é apenas um: conseguir entradas para assistir aos jogos da quadra principal. Senhas são distribuídas e é proibido guardar lugar. Furar a fila é crime (punido com cerimônia de empalamento comandada por Roger Federer). Enquanto avança-se em marcha lenta (em 2005, houve espera de 36 horas para ver Tim Henman), é possível pedir pizza, cachorro-quente, comida chinesa do Mr. Chow ou fish and chips. Tudo delivery. Basta informar coordenadas como árvore mais próxima ou gorro vermelho do amigo da frente e voilà.
Grupos carregam caixas de cerveja. Jovens do Greenpeace pedem contribuições para salvar os galgos da Indonésia. Apostas são feitas -- segundo meu amigo Bernie, a família inglesa média gasta semanalmente mais com apostas (£3,60) do que com a compra de legumes (£3,40) ou frutas frescas (£2,80) -- e adesivos com a inscrição "Eu fiquei na fila em Wimbledon" são distribuídos e prontamente colados em bonés, bochechas, bebês e camisetas.
Além dos vendedores de guarda-chuva (estamos em Londres) e chaveiros de bola de tênis, representantes das mais diversas marcas oferecem amostras grátis de iogurte, água sabor pêssego, choco crispys etc. Duas moças passam distribuindo pequenas colheres -- embora ninguém saiba muito bem o que fazer com elas --, e o homem que se veste como Sr. Hulot anuncia que vai pintar o cabelo de loiro e participar do concurso de sósias do Boris Becker.
Aos poucos, a fila caminha, até a catraca, deixando para trás sua própria multidão em ziguezague, o pessoal de pé e o pessoal sentado, os com travesseiros e os sem travesseiros, os com cobertor e a turma da vuvuzela. Logo, com alguma sorte, a quadra principal surge, radiosa. Mas quem alcança o objetivo e coloca os pés no verde e púrpura de Wimbledon vai perceber que dali para a frente tudo acaba muito rápido (um set, dois), e é da fila que vai lembrar depois.
Em São Paulo, nesses dias de Copa, acontece parecido: o trabalho pára, a fila de carros cresce, nas ruas as pessoas brandem corneta, apito e bandeira. Então parece que são 36 horas assim, fila, as camisas da Seleção, até todo mundo conseguir entrar nas casas, nos bares, no churrasco do irmão, do primo. O hino. Depois, o jogo mesmo, é rápido, plof. Tudo acaba, e a gente volta pra casa pensando no trabalho do dia seguinte, em toda vizinhança que gritou gol muito antes, quando o nosso atacante ainda se preparava pra chutar (o delay que vem atacando as transmissões da Copa), e a gente volta pra casa, como se voltasse para o fim da fila.
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