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"Falta aos peixes qualquer meio de comunicação conosco; assim, não conseguem despertar a nossa compaixão. Abocanham a isca mesmo quando estão são e salvos na água! Além disso, a morte não lhes altera o aspecto. Sua dor, se existe, permanece perfeitamente escondida sob as escamas." Italo Svevo, no meu episódio preferido d'A consciência de Zeno (1923), o da pesca. Em tempo: não demora e o Zeno aí do título pega um dourado de três quilos! Depois compõe uma fábula intitulada "O camarão meditativo": A vida é bela, mas é preciso ter cuidado onde se senta. Também inventa a fábula do peixe que vai ao dentista. E diz, cheio de orgulho: "As minhas fábulas pareceram-me esplêndidas. As coisas que brotam de nosso cérebro têm um aspecto de todo amável, principalmente quando examinadas logo após o nascimento". Hitchcock conta a história de um roteirista que sempre tinha suas melhores ideias no meio da noite e, quando acordava, não conseguia se lembrar delas. Então pensou: "vou pôr um papel e um lápis ao lado da cama, e quando a ideia chegar poderei escrevê-la". Então, no meio da noite, o sujeito acorda com uma ideia notável, realmente fantástica. Escreve-a com detalhes e volta a dormir. Na manhã seguinte, enquanto está se barbeando, lembra que teve uma ideia excelente. E lembra que dessa vez (alegria) anotou tudo. Corre até o quarto, apanha o papel e lê: "Rapaz se apaixona por uma moça".
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