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Jour de fête, Jacques Tati, 1949
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"Os famosos Comícios chegaram realmente! Já na manhã da solenidade todos os habitantes, em suas portas, entretinham-se com os preparativos; haviam enguirlandado com hera o frontão da prefeitura; no prado fora levantada uma tenda para o festim e, no meio da praça, diante da igreja, uma espécie de bombarda devia assinalar a chegada do Sr. Governador e o nome dos agricultores premiados. A guarda nacional de Buchy (ela não existia em Yonville) viera juntar-se ao corpo de bombeiros cujo capitão era Binet. Usava ele, naquele dia, um colarinho ainda mais alto do que o costume; e, apertado em sua túnica, tinha o busto tão duro e imóvel que toda a parte vital de seu corpo parecia ter descido às pernas, que se levantavam em cadência com passos marcados, em um só movimento. Como subsistia uma rivalidade entre o perceptor e o coronel, ambos, para mostrar seus talentos, faziam evoluir seus homens à parte. Viam-se, alternadamente, passar e passar de novo as dragonas vermelhas e os plastrões negros. O movimento não acabava e recomeçava sempre! Nunca houvera uma tal ostentação! Vários burgueses, já na véspera, haviam lavado suas casas; as bandeiras tricolores encimavam as janelas entreabertas; todos os botequins estavam cheios e, com o bom tempo que estava fazendo, os gorros engomados, as cruzes de ouro e os lenços coloridos pareciam mais brancos do que a neve, cintilavam ao sol claro e reanimavam, com sua miscelânea disseminada, a sombria monotonia das casacas e das blusas azuis. As granjeiras das redondezas, ao descer do cavalo, retiravam o grande alfinete que lhes mantinha o vestido arregaçado ao redor do corpo por medo das manchas; e os maridos, pelo contrário, a fim de defender seus chapéus, conservavam acima deles lenços de bolso mantendo presa entre os dentes uma de suas pontas.
A multidão chegava à rua principal pelas duas extremidades da vila. Transbordava das ruelas, das alamedas, das casas e ouvia-se, de tempos em tempos, recair a aldrava das portas atrás das burguesas com luvas de linha que saíam para ir ver a festa. O que todos admiravam sobretudo eram dois longos teixos cobertos de lampiões que ladeavam o palanque onde iriam colocar-se as autoridades; havia ainda, contra as quatro colunas da prefeitura, quatro espécies de varas, trazendo cada uma um pequeno estandarte de fazenda esverdeada, cheio de inscrições em letras de ouro. Lia-se num deles: Ao Comércio, num outro: À Agricultura, no terceiro: À Indústria e no quarto: Às Belas-Artes.
(...)
Todos se assemelhavam. Seus moles rostos claros, um pouco queimados pelo sol, tinham a cor da sidra doce e suas suíças fofas escapavam dos grandes colarinhos duros, seguros por gravatas brancas com o nó bem esticado. Todos os coletes eram de veludo e trespassados; todos os relógios traziam na ponta de uma longa fita um sinete oval de cornalina; e todos apoiavam as duas mãos sobre as duas coxas, puxando com cuidado a entreperna das calças cuja fazenda, ainda não deslustrada, brilhava mais do que o couro das fortes botas.
(...)
A praça, até às casas, estava cheia de gente. Viam-se pessoas debruçadas em todas as janelas, outras de pé em todas as portas e Justin, diante da vitrina da farmácia, parecia completamente cravado na contemplação do que estava olhando. Apesar do silêncio, a voz do Sr. Lieuvain perdia-se no ar. Somente chegavam aos ouvidos fragmentos de frases interrompidas pelo barulho das cadeiras na multidão; depois cada um ouvia, de repente, atrás de si, um longo mugido de boi ou então os balidos dos cordeiros que se respondiam nas esquinas das ruas. De fato, os vaqueiros e os pastores haviam levado até lá seus animais que mugiam de vez em quando, arrancando com a língua algum pedaço de folhagem que lhes pendia do focinho."
Madame Bovary, Flaubert, 1857 (Tradução de Fúlvia M.L. Moretto)
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Jour de fête, Jacques Tati, 1949
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"Os famosos Comícios chegaram realmente! Já na manhã da solenidade todos os habitantes, em suas portas, entretinham-se com os preparativos; haviam enguirlandado com hera o frontão da prefeitura; no prado fora levantada uma tenda para o festim e, no meio da praça, diante da igreja, uma espécie de bombarda devia assinalar a chegada do Sr. Governador e o nome dos agricultores premiados. A guarda nacional de Buchy (ela não existia em Yonville) viera juntar-se ao corpo de bombeiros cujo capitão era Binet. Usava ele, naquele dia, um colarinho ainda mais alto do que o costume; e, apertado em sua túnica, tinha o busto tão duro e imóvel que toda a parte vital de seu corpo parecia ter descido às pernas, que se levantavam em cadência com passos marcados, em um só movimento. Como subsistia uma rivalidade entre o perceptor e o coronel, ambos, para mostrar seus talentos, faziam evoluir seus homens à parte. Viam-se, alternadamente, passar e passar de novo as dragonas vermelhas e os plastrões negros. O movimento não acabava e recomeçava sempre! Nunca houvera uma tal ostentação! Vários burgueses, já na véspera, haviam lavado suas casas; as bandeiras tricolores encimavam as janelas entreabertas; todos os botequins estavam cheios e, com o bom tempo que estava fazendo, os gorros engomados, as cruzes de ouro e os lenços coloridos pareciam mais brancos do que a neve, cintilavam ao sol claro e reanimavam, com sua miscelânea disseminada, a sombria monotonia das casacas e das blusas azuis. As granjeiras das redondezas, ao descer do cavalo, retiravam o grande alfinete que lhes mantinha o vestido arregaçado ao redor do corpo por medo das manchas; e os maridos, pelo contrário, a fim de defender seus chapéus, conservavam acima deles lenços de bolso mantendo presa entre os dentes uma de suas pontas.
A multidão chegava à rua principal pelas duas extremidades da vila. Transbordava das ruelas, das alamedas, das casas e ouvia-se, de tempos em tempos, recair a aldrava das portas atrás das burguesas com luvas de linha que saíam para ir ver a festa. O que todos admiravam sobretudo eram dois longos teixos cobertos de lampiões que ladeavam o palanque onde iriam colocar-se as autoridades; havia ainda, contra as quatro colunas da prefeitura, quatro espécies de varas, trazendo cada uma um pequeno estandarte de fazenda esverdeada, cheio de inscrições em letras de ouro. Lia-se num deles: Ao Comércio, num outro: À Agricultura, no terceiro: À Indústria e no quarto: Às Belas-Artes.
(...)
Todos se assemelhavam. Seus moles rostos claros, um pouco queimados pelo sol, tinham a cor da sidra doce e suas suíças fofas escapavam dos grandes colarinhos duros, seguros por gravatas brancas com o nó bem esticado. Todos os coletes eram de veludo e trespassados; todos os relógios traziam na ponta de uma longa fita um sinete oval de cornalina; e todos apoiavam as duas mãos sobre as duas coxas, puxando com cuidado a entreperna das calças cuja fazenda, ainda não deslustrada, brilhava mais do que o couro das fortes botas.
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A praça, até às casas, estava cheia de gente. Viam-se pessoas debruçadas em todas as janelas, outras de pé em todas as portas e Justin, diante da vitrina da farmácia, parecia completamente cravado na contemplação do que estava olhando. Apesar do silêncio, a voz do Sr. Lieuvain perdia-se no ar. Somente chegavam aos ouvidos fragmentos de frases interrompidas pelo barulho das cadeiras na multidão; depois cada um ouvia, de repente, atrás de si, um longo mugido de boi ou então os balidos dos cordeiros que se respondiam nas esquinas das ruas. De fato, os vaqueiros e os pastores haviam levado até lá seus animais que mugiam de vez em quando, arrancando com a língua algum pedaço de folhagem que lhes pendia do focinho."
Madame Bovary, Flaubert, 1857 (Tradução de Fúlvia M.L. Moretto)
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