segunda-feira, 11 de maio de 2009

dia da marmota

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No mês passado, editei um volume de contos do Vila-Matas, Suicídios exemplares -- “um livro respeitado até por meus inimigos”, de acordo com o catalão. Em um dos e-mails trocados por causa de dúvidas de tradução etc, Vila-Matas comenta o efeito Dia da Marmota:

"Chris Shaw — há muitos anos o engenheiro de som preferido de Bob Dylan — conta que um dia, no fim de um show, se aproximou de Dylan e, referindo-se à interpretação de 'It’s Alright Ma' que acabara de ouvir, quis saber se alguma vez o músico tinha voltado a tocar a versão original da música. Dylan o olhou e disse: 'Bom, você sabe, um disco não é mais que o registro do que você estava fazendo naquela hora, naquele dia particular. E ninguém gostaria de viver o mesmo dia outra vez, não?' Isso me faz pensar não só na necessidade que sempre tive de modificar tudo o que se apresenta como original, mas também na angústia que sinto quando alguém me fala sobre um livro que publiquei há muito tempo [Suicídios exemplares é de 1991]. Volta e meia isso acontece quando um romance é lançado em um outro país e preciso aparecer em público, como se tivesse acabado de escrevê-lo e, além disso, assinar em baixo de tudo que foi dito ali, há tanto tempo, no livro. A gente escreve é precisamente pelo motivo contrário, para modificar os originais, para não viver o mesmo dia outras vezes."
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