A Lebowski Fest aconteceu há alguns meses, em um boliche no bairro de Acton, pros lados de Hammersmith, West London. Fui até lá e escrevi esse texto sobre a festa. Foi publicado na piauí deste mês.
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Hey, Dude
Em Londres, mulher-tapete celebra o Cara
Não sobrou nenhum pino. Enquanto a gerente de vendas Lisa Jones, 25 anos, vibra e abraça as amigas, Will Russel, 31, aperta o botão da máquina e, sem remorso, invalida o strike. "Pisou na marca." "Mas, mas...", Lisa tenta se justificar e também dizer que— "Pisou na marca", com Russel não tem conversa, e ele começa a ficar nervoso: "isso não é o Vietnã, dear! Isso é boliche, há certas regras!". O pessoal em volta ri. A frase é do filme favorito de Russel e das 500 pessoas que lotam as 28 pistas do Tenpin Bowling, em Acton, Londres: O Grande Lebowski, dos irmãos Ethan e Joel Coen.
Em 2002, o americano Will Russel e um amigo, Scott Shuffitt, 34, tiveram a idéia de criar uma festa para celebrar a comédia noir dos irmãos Coen. A primeira edição foi realizada na cidade dos dois, Louisville, Kentucky, num boliche cujos donos eram batistas. Segundo Russel, no local não era permitido beber ou blasfemar, "o que, convenhamos, atrapalhava. Afinal, no filme os personagens falam fuck (ou alguma variação) exatamente 251 vezes".
Ainda assim, apesar da compostura evangélica, os 35 amigos convidados para a maratona — que incluía a exibição do filme, concurso de fantasia e competição de perguntas-e-respostas inspirados no Grande Lebowski — se multiplicaram, e a festa acabou atraindo 150 lebowskianos ortodoxos. Um ano depois, a revista americana Spin indicava o festival como "um dos dezenove eventos mais legais do verão". A terceira festa, em junho de 2004, juntou mais de 4 mil Achievers — ou Conquistadores, Empreendedores —, como se autodenominam os fãs, numa das muitas piadas com que se divertem. Reuniões já foram organizadas em Seattle, Los Angeles, Nova York e Las Vegas, e neste mês, em Chicago, a festa comemora os dez anos de lançamento do filme.
O Grande Lebowski chegou aos cinemas na primavera de 1998 e foi um fracasso. Crítica e (algum) público se perguntavam que raio de história policial à la Raymond Chandler era aquela — são os próprios Coen quem reivindicam a filiação. Em vez de um detetive, quem seguia as pistas e tentava desvendar o mistério da trama era um hippie de meia-idade, desempregado, pacifista, ex-ativista político, jogador de boliche, fã de roupões de banho, ruídos de baleia e da banda californiano-ecológico-antiguerra-do-Vietnã Creedence Clearwater Revival. Seu nome era Jeffrey Lebowski, ou melhor, The Dude, como preferia ser chamado: "O Cara".
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Interpretado por Jeff Bridges, Dude é um sujeito verão que passa boa parte do filme metido num roupão de banho, fumando maconha e bebendo White Russian, um drinque para destemidos à base de licor de café, leite e vodca. A paz do Cara é desafiada quando o confundem com outro Jeffrey Lebowski, um velho milionário cuja voluptuosa namorada foi seqüestrada porque deve dinheiro a um magnata da indústria pornô de Los Angeles. Para alegria de Russel e Shuffitt, o filme traz também uma gangue de alemães niilistas, uma marmota selvagem e aforismos sem juízo ditos por um caubói de bigode e voz solene. Verdades eternas do tipo "Um dia agüentamos a barra; no outro, a barra cai em cima da gente".
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