. Conto de verão (1996) é meu filme preferido do Eric Rohmer. Grande história sobre o acaso e a escolha. (Cortázar, no Jogo da amarelinha: "indicando-lhe que talvez houvesse outros caminhos e que aquele que escolheu não era o único e não era o melhor, ou que talvez houvesse outros caminhos e que aquele que escolheu era o melhor, mas que talvez houvesse outros caminhos suaves de caminhar e que ele não os tinha escolhido").
.
É a história do jovem Gaspard, que vai passar o verão numa praia da Bretanha (Floripa, 2001). Ele sabe que Lèna, sua namorada, vai estar na cidade, mas não combina encontro. Enquanto não esbarra com ela (não faz muito esforço), Margot entra em cena. Garçonete na creperia dos tios (e etnóloga), Margot diz ter um namorado (que está longe e nunca aparece) e os dois se tornam amigos. Numa das caminhadas à beira mar, Gaspard e Margot avistam a baía de Saint Malo, cidade dos corsários no século XVII. Lena não aparece, Margot segue por perto e Gaspard se envolve com uma terceira garota.
Conversa-se muito, e muito se fala de como se fala muito nos filmes do Rohmer. O mais importante, acho, é que é frequente que na vida as conversas aconteçam exatamente como nas histórias de Rohmer. As coisas mais importantes nunca são ditas, as pessoas procuram essas coisas mais importantes no olhar dos interlocutores, e volta e meia trocam banalidades enquanto tentam adivinhar algo profundo e sutil. Hitchcock disse:
"O diálogo deve ser um ruído, um ruído que sai da boca dos personagens cujos atos e olhares contam uma história visual".
.
. "Esse seu bigode, Fitzsimmons", disse Martin, "é fora do comum. Aventureiro e cheio de pompa." "É mesmo?" "Extraordinariamente vulgar. Esplêndido também, claro, e elegante, de um modo muito irlandês e sardônico. Na hora do suco de tomate deve ser uma coisa de tirar o fôlego."
(Do livro que acabei de editar, O grande jogo de Billy Phelan (1978), de Mr. William Kennedy, na nobre tradução de Sergio Flaksman). .