sábado, 26 de março de 2016

assim é que eles voltam

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"Mas certas coisas, como percebo cada vez mais, têm um jeito especial de retornar, inesperadas e imprevistas, muitas vezes depois de uma longa ausência. Por volta do final de julho de 1986, estive na Suiça por uns dias. Na manhã do dia 23, peguei um trem de Zurique para Lausanne. À medida que o trem, reduzindo a velocidade, atravessava a ponte do Aare rumo a Berna, ergui a vista da cidade para a cadeia de montanhas de Oberland. Como me lembro, ou como talvez agora somente imagine, dr. Selwyn me voltou então à lembrança, depois de muito tempo. Três quartos de hora mais tarde, para não perder a paisagem do lago Genebra, cujo espetáculo não cansa de me admirar toda vez que se abre, eu estava prestes a pôr de lado um jornal de Lausanne comprado em Zurique e apenas folheado, quando meus olhos pousaram numa reportagem que dizia que os restos do corpo do alpinista bernês Johannes Naegeli, dado como desaparecido desde o verão de 1914, haviam sido novamente expostos à luz pela geleira de Oberaar, setenta e dois anos mais tarde. Assim é que eles voltam, os mortos. Às vezes afloram do gelo mais de sete décadas depois e jazem à beira da moraina, um montículo de ossos brunidos e um par de botas com grampos de ferro."

"Dr. Henry Selwyn", W. G. Sebald, 1992
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