quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

uma carta polinésia

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"Teriitera,

Faço você saber do meu grande afeto. Na hora em que você nos deixou, fiquei cheio de lágrimas; minha mulher, Rui Telime, também, e todo o pessoal da casa. Quando você embarcou, senti um grande sofrimento. É por isso que fui até a estrada, e você olhou daquele navio, e olhei para você no navio com grande tristeza até que vocês levantaram âncora e içaram as velas. Quando o navio partiu, corri pela praia para ver você ainda; e quando você já estava em mar aberto eu gritei: 'Adeus, Louis'; e quando estava voltando para casa, tive a impressão de ouvir sua voz dizendo: 'Rui, adeus'. Depois fiquei olhando o navio o quanto pude até cair a noite; e quando ficou escuro eu disse para mim mesmo: se eu tivesse asas, voaria para o navio para encontrar vocês e para dormir no meio de vocês e para ouvir histórias, para poder voltar à costa e dizer a Rui Telime: 'Eu dormi no navio de Teriitera'.

Depois disso, passamos a noite na impaciência da tristeza. Por volta de oito horas, tive a impressão de ouvir sua voz, 'Aqui está a hora de queijo e melaço'. Não dormi naquela noite, pensando continuamente em você, meu querido amigo, até de manhã; estando então ainda acordado, fui ver Tapina Tutu na cama dela, e ai de mim, ela não estava lá. Depois olhei nos quartos de vocês; não fiquei feliz como antes. Não ouvi sua voz dizendo 'Olá, Rui'; assim, pensei que você tinha partido e que você tinha me deixado. Então saí, fui à praia para ver seu navio e não o vi. Aí, chorei, até a noite, dizendo para mim mesmo sem parar: 'Teriitera volta para seu próprio país e deixa seu querido Rui na tristeza, e por isso eu sofro por ele e choro por ele'. Não vou esquecer você em minha memória. Aqui está o pensamento: desejo encontrar você de novo. São seus olhos que desejo ver de novo. O que deve ser é que meu corpo e seu corpo vão comer juntos na mesma mesa: aí está o que faria meu coração contente. Mas agora estamos separados. Que Deus esteja com vocês. Que Sua palavra e Sua misericórdia acompanhem vocês, para que vocês fiquem bem e nós também, segundo as palavras de Paulo. 

Ori-a-Ori, quer dizer, Rui"

Carta do nativo Ori-a-Ori para Robert Louis Stevenson, Taiti circa 1889
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