terça-feira, 17 de novembro de 2015

frase-balzac, frase-flaubert

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"Flaubert pratica a elipse ("substância especial"). Ele não apõe. [...] Para ele, a frase é como um objeto, um microssistema com hierarquia interna (em oposição a Balzac, que acumula uma pluralidade de incidentes). Toda a lógica deve estar contida na frase. A frase é um envelope lógico (sua origem, sua matriz é efetivamente a oração, noção lógica, não gramatical).

Aquilo que Balzac teria catalisado é o que Flaubert esvaziou: a única e simples frase de Flaubert ("Como fazia um calor de trinta e três graus, o bulevar Bourdon estava completamente deserto") teria rendido um parágrafo inicial inteiro em Balzac — considerações climáticas sobre Paris, sociologia de Paris no verão, topografia do bairro da Bastilha etc.

Convém notar a relação com a ciência, com o discurso científico. Balzac está mais próximo da ciência do que Flaubert. A elipse não é científica: ser elíptico não pega bem. A elipse supõe a escolha de outro sistema de valores — a arte. Na arte, o implícito é (pelo menos era, na arte clássica) um valor.

Ou ainda: o silêncio. A frase flaubertiana, sem nunca ser hermética, faz ouvir silêncios. O silêncio é o lugar constitutivo da frase, assim como da música."

"Sobre sete frases de Bouvard e Pécuchet", R. Barthes, 1975 (na Serrote)
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