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"A. viu no jornal que Superman estava passando num cinema próximo e decidiu levar o garoto, apesar de não acreditar que ele conseguisse ficar sentado o tempo todo. Na primeira metade do filme o menino ficou calmo, mergulhado num balde de pipoca, cochichando suas perguntas, como A. o havia instruído, e aceitando sem grandes problemas todo o assunto de explosão de planetas, foguetes e viagens espaciais. Mas então aconteceu uma coisa. O Superman começou a voar, e de repente o menino perdeu a compostura. Abriu a boca, ficou de pé na cadeira, derrubou a pipoca, apontou para a tela e começou a gritar: 'Olhe! Olhe! Ele está voando!'. Durante o resto do filme ele ficou em transe, o rosto tenso de absorver o que via, maravilhado, novamente tentando absorver, maravilhado. Perto do final, aquilo se tornou um pouco demais para ele. 'Muito barulho', disse. Seu pai perguntou se ele queria ir embora, e ele disse sim. A. pegou-o no colo e carregou-o para fora do cinema — para uma violenta tempestade de granizo. Quando corriam para o carro, o menino disse (sacolejando nos braços de A.): 'Estamos tendo uma aventura e tanto esta noite, não?'”
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Paul Auster, A invenção da solidão, 1982
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