.
"Claro! Gosto que a pessoa seja objetiva e tudo. Mas não gosto que seja objetiva demais. Não sei. Acho que não gosto quando a pessoa é objetiva o tempo todo. Os garotos que conseguiam as melhores notas em Expressão Oral eram objetivos o tempo todo, isso eram. Mas tinha um garoto, o Richard Kinsella. Ele não era muito objetivo e a turma vivia gritando 'Digressão!' quando ele falava. Era horrível. Primeiro porque ele era um cara muito nervoso. Isso mesmo, nervosíssimo -- e, quando chegava a hora de falar, os lábios dele começavam a tremer, eu gostava dos discursos dele mais do que os de qualquer outro sujeito. Ele também quase foi reprovado. Passou raspando, porque a turma vivia gritando 'Digressão!' para ele. Por exemplo, ele fez um discurso sobre uma fazenda que o pai dele tinha comprado em Vermont. O tempo inteirinho que ele falou a turma ficou gritando "Digressão!" e o professor, um tal de Vinson, deu-lhe uma nota ruim pra diabo porque ele não contou que espécie de animais e legumes e outros troços tinha lá na fazenda e tudo. Sabe o quê que ele fazia? Começava contando essas coisas todas e aí, de repente, começava a falar de uma carta que a mãe dele tinha recebido do tio; e que o tio teve poliomielite e tudo aos quarenta e dois anos de idade, e se recusava a receber visitas no hospital porque não queria que ninguém o visse com a perna na tipóia. Não tinha muita ligação com a fazenda, concordo, mas era simpático. É um troço simpático quando alguém fala de um tio. Principalmente quando começa a falar da fazenda do pai e, de repente, fica mais interessado no tio."
(Salinger, n'O Apanhador)
.
"Claro! Gosto que a pessoa seja objetiva e tudo. Mas não gosto que seja objetiva demais. Não sei. Acho que não gosto quando a pessoa é objetiva o tempo todo. Os garotos que conseguiam as melhores notas em Expressão Oral eram objetivos o tempo todo, isso eram. Mas tinha um garoto, o Richard Kinsella. Ele não era muito objetivo e a turma vivia gritando 'Digressão!' quando ele falava. Era horrível. Primeiro porque ele era um cara muito nervoso. Isso mesmo, nervosíssimo -- e, quando chegava a hora de falar, os lábios dele começavam a tremer, eu gostava dos discursos dele mais do que os de qualquer outro sujeito. Ele também quase foi reprovado. Passou raspando, porque a turma vivia gritando 'Digressão!' para ele. Por exemplo, ele fez um discurso sobre uma fazenda que o pai dele tinha comprado em Vermont. O tempo inteirinho que ele falou a turma ficou gritando "Digressão!" e o professor, um tal de Vinson, deu-lhe uma nota ruim pra diabo porque ele não contou que espécie de animais e legumes e outros troços tinha lá na fazenda e tudo. Sabe o quê que ele fazia? Começava contando essas coisas todas e aí, de repente, começava a falar de uma carta que a mãe dele tinha recebido do tio; e que o tio teve poliomielite e tudo aos quarenta e dois anos de idade, e se recusava a receber visitas no hospital porque não queria que ninguém o visse com a perna na tipóia. Não tinha muita ligação com a fazenda, concordo, mas era simpático. É um troço simpático quando alguém fala de um tio. Principalmente quando começa a falar da fazenda do pai e, de repente, fica mais interessado no tio."
(Salinger, n'O Apanhador)
.