sábado, 29 de setembro de 2018

eu direi as palavras mais terríveis esta noite

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"Esse é tempo de partido,/ tempo de homens partidos./ Em vão percorremos volumes,/ viajamos e nos colorimos./ A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua./ Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos./ As leis não bastam. Os lírios não nascem/ da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se/ na pedra./ Visito os fatos, não te encontro./ Onde te ocultas, precária síntese,/ penhor de meu sono, luz/ dormindo acesa na varanda?/ Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo/ sobe ao ombro para contar-me/ a cidade dos homens completos./ Calo-me, espero, decifro./ As coisas talvez melhorem./ São tão fortes as coisas!/ Mas eu não sou as coisas e me revolto./ Tenho palavras em mim buscando canal,/ são roucas e duras,/ irritadas, enérgicas,/ comprimidas há tanto tempo,/ perderam o sentido, apenas querem explodir./ Esse é tempo de divisas,/ tempo de gente cortada./ De mãos viajando sem braços,/ obscenos gestos avulsos./ Mudou-se a rua da infância./ E o vestido vermelho/ vermelho/ cobre a nudez do amor,/ ao relento, no vale./ Símbolos obscuros se multiplicam./ Guerra, verdade, flores?/ Dos laboratórios platônicos mobilizados/ vem um sopro que cresta as faces/ e dissipa, na praia, as palavras./ A escuridão estende-se mas não elimina/ o sucedâneo da estrela nas mãos./ Certas partes de nós como brilham! São unhas,/ anéis, pérolas, cigarros, lanternas,/ são partes mais íntimas,/ e pulsação, o ofego,/ e o ar da noite é o estritamente necessário/ para continuar, e continuamos." 

"Nosso Tempo", Drummond, A rosa do povo, 1945

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"Eu direi as palavras mais terríveis esta noite/ enquanto os ponteiros se dissolvem/ contra o meu poder/ contra o meu amor/ no sobressalto da minha mente/ meus olhos dançam/ no alto da Lapa os mosquitos me sufocam/ que me importa saber se as mulheres são/ férteis se Deus caiu no mar se/ Kierkegaard pede socorro numa montanha/ da Dinamarca?/ os telefones gritam/ isoladas criaturas caem no nada/ os órgãos de carne falam morte/ morte doce carnaval de rua do/ fim do mundo/ eu não quero elegias mas sim os lírios/ de ferro dos recintos/ há uma epopéia nas roupas penduradas contra/ o céu cinza/ e os luminosos me fitam do espaço alucinado/ quantos lindos garotos eu não vi sob esta luz?/ eu urrava meio louco meio estarrado meio fendido/ narcóticos santos ó gato azul da minha mente!/ eu não posso deter nunca mais meus Delírios/ Oh Antonin Artaud/ Oh Garcia Lorca/ com seus olhos de aborto reduzidos/ a retratos/ almas/ almas/ como icebergs/ como velas/ como manequins mecânicos/ e o clímax fraudulento dos sanduíches almoços/ sorvetes controles ansiedades/ eu preciso cortar os cabelos da minha alma/ eu preciso tomar colheradas de/ Morte Absoluta/ eu não enxergo mais nada/ meu crânio diz que estou embriagado/ suplícios genuflexões neuroses/ psicanalistas espetando meu pobre/ esqueleto em férias/ eu apertava uma árvore contra meu peito/ como se fosse um anjo/ meus amores começam crescer/ passam cadillacs sem sangue os helicópteros/ mugem/ minha alma minha canção bolsos abertos/ da minha mente/ eu sou uma alucinação na ponta de teus olhos."

"Meteoro", Roberto Piva, Paranoia, 1963
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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

conto russo

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Livro novo, em outubro, capa da Elaine Ramos.
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sábado, 8 de setembro de 2018

um, dois, três

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Jeff WallPicture for Women, 1979
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