terça-feira, 11 de outubro de 2016

o demônio em pessoa

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"Ressoou junto ao terceiro pavilhão: jak, jak, jak. E assim junto a todos os pavilhões e, depois, atrás dos barracões e além do portão. Tinha-se a impressão de que aqueles sons eram emitidos, em pleno silêncio noturno, pelo próprio monstro de olhos carmesins, pelo demônio em pessoa, que possuía ali tanto os patrões como os operários e enganava a uns e outros.

Korolióv saiu do pátio e caminhou para o campo.

— Quem está aí? — gritou do portão, em sua direção, uma voz rude.

Parece uma prisão, ele pensou e não respondeu ao grito.

No campo, ouviam-se melhor os sapos e rouxinóis, sentia-se a noite de maio. Vinha da estação o ruído de um trem. Em alguma parte, galos sonolentos emitiam seu grito, mas, apesar de tudo, a noite era plácida, o mundo estava dormindo tranquilo. Não longe da fábrica, havia troncos de árvores cortadas, acumulava-se material para uma construção. Korolióv sentou-se sobre as tábuas e continuou pensando:

Somente a governanta sente-se bem aqui e toda a fábrica funciona unicamente para satisfazer seus prazeres. Mas ela parece ser apenas uma espécie de testa-de-ferro. O mais importante de todos, aquele para quem se faz tudo aqui, é o demônio.

E ele pensou no diabo, em que não acreditava, e ficou olhando para as duas janelas iluminadas pelo fogo. Tinha a impressão de que olhava para ele, com aqueles olhos carmesins, o próprio demônio, aquela força desconhecida que estabelecera as relações entre os fortes e os fracos, este erro grosseiro, que já não havia meio de corrigir."

"Um caso clínico", Tchekhov, 1898
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