sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

multiplicação e batatas

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Dois trechos de O sentido de um fim, do Julian Barnes.

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"Será que o caráter se desenvolve com o tempo? Nos romances, é claro que sim: senão não haveria muita história para contar. Mas e na vida? Eu às vezes tenho dúvidas. Nossas atitudes e opiniões mudam, nós desenvolvemos novos hábitos e excentricidades; mas isso é uma coisa diferente, mais como uma decoração. Talvez o caráter se pareça com a inteligência, só que o caráter alcança o seu ápice um pouco mais tarde: entre os vinte e os trinta, digamos. Depois disso, somos obrigados a nos contentar com o que temos. Estamos por nossa conta. Se for assim, isso explicaria um bocado de vidas, não é? [...] A questão da acumulação. Você põe dinheiro num cavalo, ele vence, e seus lucros vão para o próximo cavalo na próxima corrida, e assim por diante. Seus lucros se acumulam. Mas o mesmo acontece com as suas perdas? Não em corridas de cavalos — nelas, você simplesmente perde a sua aposta original. Mas e na vida? Talvez aqui se apliquem regras diferentes. Você aposta num relacionamento, ele fracassa; você passa para outro relacionamento, ele fracassa também: e, talvez, o que você perca não sejam duas simples somas de números negativos, mas a multiplicação do que você apostou. Pelo menos, essa é a impressão. A vida não é feita só de adição e subtração. Há também a acumulação, a multiplicação de perdas e fracassos."

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"Um dia, eu disse ao barman:
—Você acha que poderia me preparar batatas fritas finas para variar?
— Como assim?
— Você sabe, como na França, aquelas fininhas.
— Não, aqui não fazemos desse tipo.
— Mas no cardápio diz que elas são cortadas à mão.
— Sim.
— Bem, não dá para cortá-las mais finas?
A costumeira afabilidade do barman fez uma pausa. Ele me olhou como se não soubesse ao certo se eu era um pedante ou um idiota, ou talvez as duas coisas.
— Batatas cortadas à mão significa batatas grossas.
— Mas se você corta batatas à mão, não poderia cortá-las mais finas?
— Nós não as cortamos. Elas vem assim.
— Elas não são cortadas aqui?
— Foi o que eu disse.
— Então o que vocês chamam de "batatas cortadas à mão" são na verdade batatas cortadas em outro lugar, e muito provavelmente por uma máquina?
— O senhor é fiscal da prefeitura, ou algo assim?
— De jeito nenhum. Eu só estou intrigado. Eu nunca me dei conta de que "cortada à mão" significava "grossa" e não "necessariamente cortada à mão".
— Bem, agora o senhor sabe."
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

mudou a minha vida

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“I had long worried that I was incapable of having a profound experience of art and I had trouble believing that anyone had, at least anyone I knew. I was intensely suspicious of people who claimed a poem or painting or piece of music “changed their life,” especially since I had often known these people before and after their experience and could register no change.

Although I claimed to be a poet, although my supposed talent as a writer had earned me my fellowship in Spain, I tended to find lines of poetry beautiful only when I encountered them quoted in prose, in the essays my professors had assigned in college, where the line breaks were replaced with slashes, so that what was communicated was less a particular poem than the echo of poetic possibility. Insofar as I was interested in the arts, I was interested in the disconnect between my experience of actual artworks and the claims made on their behalf; the closest I’d come to having a profound experience of art was probably the experience of this distance, a profound experience of the absence of profundity.”

Ben Lerner, Leaving the Atocha Station, 2011 (via Nesky)
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