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"Enquanto troto vagarosamente ao longo do rio Charles, alunas de Harvard parecendo calouras passam por mim. A maioria dessas garotas é pequena, magra, usa um traje bordô com o símbolo de Harvard, cabelo loiro preso num rabo de cavalo e iPods novos em folha, e correm como o vento. Pode-se definitivamente sentir uma espécie de ar desafiador e agressivo emanando delas. [...] Todas parecem muito cheias de vida, saudáveis, atraentes e sérias, transbordando autoconfiança. Com suas passadas largas e movimentos enérgicos é fácil perceber que são típicas corredoras de média distância. Estão mentalmente talhadas para corridas breves em alta velocidade. Comparado a elas, estou bem acostumado a perder. Há um monte de coisas neste mundo muito além do meu alcance, um monte de oponentes que nunca poderei vencer. Esses pensamentos passam pela minha cabeça conforme observo seus orgulhosos rabos de cavalo balançando de um lado para outro, suas passadas agressivas. [...] Será que já tive dias tão luminosos assim na minha vida? Talvez alguns. Mas mesmo que tivesse tido um rabo de cavalo, duvido que balançaria tão orgulhosamente. E minhas pernas não teriam golpeado o chão com movimentos tão destros e vigorosos como as delas. É maravilhoso observá-las correndo. Elas têm seu próprio ritmo, seu próprio senso de tempo. E eu tenho meu próprio ritmo, meu próprio senso de tempo. Os dois são completamente diferentes, mas é assim que deve ser."
Haruki Murakami,
Do que eu falo quando falo de corrida, 2007
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