sexta-feira, 24 de agosto de 2007

if god had a fridge your picture would be on it

.

Ontem, o caderno G2 do The Guardian publicou ensaio fotográfico com placas de igreja feitas pelo casal norte-americano Steve e Pam Paulson. Em viagem da Florida para o Alaska, eles decidiram que a coisa mais hilariante desde George Washington eram as publicidades de Cristo, e resolveram passar três verões rodando pelos EUA e registrando os anúncios celestiais.
.

.
.
.
.
.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

mezzo intelectuale, mezzo di sinistra

.


Nanni Moretti e o way of life de sua namorada riponga em seu primeiro filme, Ecce Bombo, 1978
.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

dentro do aquário

.
Em dezembro de 1920, DH Lawrence escreveu em seu blog: "we are going to look at Sardinia, and if I like that I shall move there".

No mês seguinte, ele e sua mulher, Frieda, partiram para a ilha. Em 1919, Lawrence tinha trocado o cinza inglês pelo azul italiano (até a sua morte, em 1930, na França, nunca mais voltou a viver na Inglaterra); passou por Florença, Roma, Capri e se estabeleceu na Sicilia na primavera de 1920. Embora estivesse gostando bastante da costa siciliana (vinho, praia, topless), o outono daquele ano foi parecido com o atual verão inglês: chuvoso, com as nuvens amassadas e um sol frio.

Lawrence, cansado de ficar quieto em seu quarto (e contrariando Pascal, que dizia que "toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa, que é a de não saber ficar quieto em seu quarto"), escreveu: "Sicily at the moment feels like a land inside an aquarium -- all water -- and people like crabs and black-grey shrimps creeping on the bottom. Don't like it... We shall be coming north in the spring -- have promised to go to Germany... perhaps Sardinia -- who knows." Então Lawrence decidiu voltar a viajar. Em janeiro de 1921, ele e Frieda tomaram um barco em Palermo e aportaram em Cagliari, sul da Sardenha. A jornada pela ilha durou nove dias, o bastante para que suas anotações virassem livro, Sea and Sardinia, incrivelmente azul.
.

.
Na semana passada, fui conhecer a Sardenha. Do avião, a água do mediterrâneo era uma pedra imensa cheia de pontinhos brancos, pequenas ondas que de longe pareciam estrelas num céu muito escuro. Paolo, namorado da Julia, amigo italiano que passou um tempo estudando e morando no Brasil, nos hospedou na casa de seus pais, em Sassari, norte da ilha. Pais, avós, tios: toda a família do Paolo vive na Sardenha, há séculos.

Para comprovar que estávamos mesmo na Itália e não mais na cinzenta Inglaterra, aquela primeira noite o jantar durou seis horas. Vinho e mais vinho. Paolo nos falou das maravilhas da TV italiana e fiquei sabendo que seu pai, Michelangelo, é professor de matemática; a irmã mais nova, Helena, toca piano; e a mãe, Maria (que na verdade se chama Domenica), estudou Letras, coleciona miniaturas de tudo o que existe no mundo (cadeiras, rádios, livros, chinelos etc) e trabalha na estação ferroviária fantasma da cidade, onde os trens vêm e vão sem maquinistas nem passageiros.
.

.
Sexta cedo, Paolo nos levou no seu Fiat Panda até a praia de Stintino. No caminho, enquanto corriam lá fora retorcidas árvores de cortiça, ele nos contava sobre a história da terra de Gramsci: fenícios, árabes, aragoneses, a dominação e influência catalãs, os gigantes de pedra do Monte Prama e o movimento independentista da ilha. Paolo faz parte do movimento, o que rende discussões com sua tia de 90 anos. Ela diz que o sardo é um dialeto, Paolo afirma que se trata de uma língua. Até concordam quanto às origens latinas, pré-romanas, etruscas e fenícias. Mas a tia não abre mão: é dialeto.
.



.
A praia de Stintino é essa coisa maravilhosa aí, dispensa comentários. Me faz pensar em como cada vez mais gosto de paisagens enormes, antigas e desoladas. Lawrence, no livro, faz belas descrições panorâmicas da Sardenha. De longe. Como esta: "The landscape continues the same: low, rolling upland hills, dim under the yellow sun of the January morning: stone fences, fields, grey arable land: a man slowly, slowly ploughing with a pony and a dark red cow: the road trailing empty across the distance".

E, principalmente, esta: "From the sea, Cagliari on its rock looms up like a legendary dream site carved onto space: a naked town rising steep, golden-looking, piled naked to the sky from the plain... The city piles up lofty and almost miniature, and makes me think of Jerusalem: without trees, without cover, rising rather bare and proud, remote as if back in history, like a town in a monkish, illuminated missal. Yet withal rather jewel-like: like a sudden rose-cut amber jewel naked at the depth of the vast indenture."
.
.
No sábado fomos para Berchidda ver o Time in Jazz. Berchidda, onde vivem os avós do Paolo, é uma cidade minúscula nas montanhas. Os shows do festival, que já conta vinte edições, acontecem em pequenos bosques ou no alto de rochas nos arredores da cidade. Na foto acima, a Kocani Orkestar, banda cigana que toca no gigante Underground, obra-prima do Emir Kusturica, puxa o carnaval nas ruas de Berchidda.
.

.
À noite, fomos apresentados à zuppa, mistura de queijos, molho de tomate, condimentos e pão sardo cortado em pedaços. Antes de ir para a panela, o pão sardo (que se assemelha ao pão sírio, redondo e macio) é cozido no caldo de alguma carne -- de javali, no caso. O pão absorve o caldo e fica com o seu sabor. Na foto acima, os avós de Paolo, Gigi e Concetta, se fartam com a zuppa. A garrafa de vinho na mesa é a terceira da noite. Gigi gosta de chamar os visitantes de ubriacones e perguntar, com um sorriso de sardinha, quando é que vão embora (pra poder sobrar mais vinho). Quando é mesmo que vocês vão embora? Quando termina o almoço, Gigi lava os pratos enquanto Concetta tira a sesta. Concetta diz que a coisa toda dos pratos é desculpa pra poder ficar bebendo mais. Gigi desconversa, e toda vez que Concetta tenta afastar o copo de perto dele, com a mão estendida, grita "Heil, Hitler!".
.
Da esquerda para a direita: Paolo, Michelangelo, Julias e Helena.
.
.
No domingo, deixamos Berchidda. As tias do Paolo, lembradas sobre o peixe frito ser o principal atrativo da gastronomia inglesa, olharam com pena e nos presentearam com tortas de queijo. Gigi nos deu garrafas de cortiça em miniatura, feitas por ele. À noite, tomamos o avião de volta. Lendo o livro do DH Lawrence, aqui, no quarto, penso que toda viagem possibilita que entremos em contato com certas reflexões que não experimentamos no dia-a-dia (além de permitir a construção de uma narrativa completa, com início e fim bem definidos). "I suppose one carries one's own self wherever one goes. But one undergoes a metamorphosis also", escreveu Lawrence. "Italy has given me back I know not what of myself, but a very, very great deal. She has found for me so much that was lost: like a restored Osiris. (...) apart from the great rediscovery backwards there is a move forwards. There are unknown, unworked lands where the salt has not lost its savour".
.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

coolanga flyer

.

Este é Sam, meu amigo cockney, preparando o churrasco no quintal de casa. No domingo, a namorada de Sam, Emma, fez aniversário e eles resolveram levar à grelha generosas porções de frango e porco. Todo mundo bebeu um monte e Jeff e eu bolamos estratégias pra capturar a raposa que mora na nossa rua. Era o fim ideal para uma semana que começou com os cachorros. Bernardo tinha me levado ao Walthamstow Greyhound Racing Stadium.

Bernardo, além de traduzir manuais de suma importância para a educação feminina na tenra idade, é um expert na ciência canina: consegue em poucos segundos examinar o histórico dos cães, o sobe-e-desce na bolsa de palpites e farejar o campeão. Eu, no entanto, não consegui emplacar bons resultados (a sorte de principiante não funcionou). Minhas maiores apostas, os cachorros Coolanga Flyer, Crocodile Tears, Kid Joker e Wheres the Girls, não estavam em suas melhores noites. Dos treze páreos que assistimos me dei bem em apenas um, em que faturei três pounds em uma aposta de 40 pence.
.